Conheça Renan Estivan, criador de tapeçarias que bombaram na São Paulo Fashion Week

Redação Alô Alô Bahia

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Publicado em 26/01/2024 às 10:21 / Leia em 6 minutos

Renan Estivan, de 29 anos, embora não seja baiano, carrega tanto a cultura quanto a identidade da Bahia em suas obras de tapeçaria. Recentemente, um de seus trabalhos, a saia Território-Real, viralizou na passarela da São Paulo Fashion Week, no desfile da marca baiana Dendezeiro, comandada por Hisan Silva e Pedro Batalha.

Em entrevista ao Alô Alô Bahia, Renan contou sobre seu trabalho, inspirações e trajetória.

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Nascido em São Caetano do Sul, na região do ABC Paulista, Renan se mudou para Salvador em 2018, após terminar a faculdade de Design, em Bauru. Seu trabalho com a arte têxtil começou na pandemia, com bordados.

“Eu percebi que tinha um problema na técnica de bordado, que era a escala. O bordado é uma técnica manual muito trabalhosa, e eu queria aumentar a escala das minhas obras, fazer coisas maiores, em maior número, e, para isso, eu teria que terceirizar a mão de obra do bordado, o que é um problema. Passei a pesquisar as técnicas mais contemporâneas de arte têxtil e me deparei com a tufting gun, que é o instrumento que eu uso, essa pistola de tufagem. É uma técnica chinesa que viralizou bastante do TikTok nos últimos anos e foi lá que eu achei. Comecei a pesquisar quais outros equipamentos eu precisava, planejei, comprei tudo, montei meu micro estúdio no meu quarto e comecei a experimentar com a tufagem”.

As tapeçarias de Renan retratam histórias e inspirações homoeróticas, com foco em corpos masculinos. Ele se inspira em nomes brasileiros como Hudinilson Júnior, artista multimídia, Leonilson, pintor, desenhista e escultor, Alair Gomes, fotógrafo carioca, a quem considera sua maior referência estética/poética, e o fotógrafo americano Tom Biancchi. Todos estudam e registram, em suas obras e linguagens artísticas, corpos masculinos e suas interações.

“Trago muito dessa poética hiper sensitiva, sensível, dos amores homoafetivos, mas também da observação desses corpos. E me inspiro muito na cidade onde vivo, no contexto em que me insiro, nas minhas histórias, em situações marcantes para mim”, explica. Para ele, a tapeçaria é a tela ideal por causa da sensibilidade tátil que pode ser despertada pelas lãs.

Como todo artista, Renan confessa que explicar o seu processo criativo não é fácil. A partir da inspiração nos corpos masculinos e em suas vivências, ele cria as narrativas das tapeçarias.

“As minhas inspirações normalmente vêm de cenas cotidianas ou de passagens da minha vida que eu consigo traduzir em imagens. Há uma forte inspiração litorânea, que vem da cidade onde vivo, e eu gosto muito de retratar esses corpos, especialmente em tons de vermelho. Sempre tento fazer um paralelo dessas histórias com a possibilidade delas estarem em contato com o mar, com o sol, com esses elementos da natureza que tem bastante a ver com a minha poética”, explicou.

Renan diz que pensa suas tapeçarias como “atos de uma história” e que a narrativa pode ser construída em várias “telas” ou em trabalhos individuais.

“Eu começo sempre entendendo o tema que  quero trazer para a tapeçaria, a conversa que quero criar, e vou buscando referências visuais dentro de rascunhos, de ideias que já tenho. Um processo muito importante na minha criação é pensar nas cores, que são muito importantes. Vou desenhando assim a tapeçaria com essas formas e cores que surgem, de acordo com as ideias ou com os temas que quero retratar. O desenho que eu faço no papel no digital nunca vai ser exatamente igual ao final, porque vem a etapa de selecionar as lãs, o material mesmo que eu vou usar para confeccionar a tapeçaria. E as lãs têm uma textura muito única, então eu constantemente estou mudando as cores, alterando a ordem dos gradientes, porque só no contato com a lã tenho noção de como a tela vai ficar e, às vezes, acabo inspirando, pensando melhor, com o material na mão”.

Embora o trabalho de Renan seja relativamente novo, ele observa que já ganhou visibilidade e alcançou espaços de destaque, como a São Paulo Fashion Week.

“Foi uma realização muito grande porque eu pude fazer, criar para a moda, que é uma área que eu tenho bastante interesse. E os dois processos criativos foram bastante interessantes porque eu fui muito colaborativo com a Dendezeiro. E na segunda edição da São Paulo Fashion Week de 2023, que aconteceu em novembro, eu também fui convidado para expor as minhas tapeçarias no evento. Então, durante a semana toda de moda, tive minhas peças sendo expostas e foi uma oportunidade muito grande tanto para atingir mais pessoas quanto para experimentar nessa área da exposição. Foi bem legal”.

Na SPFW, um dos trabalhos de Renan que ganhou destaque foi a saia “Território-Real”, de impressionantes 50kg de tapeçaria.

“É minha peça favorita e foi meu trabalho mais ambicioso até agora, porque é uma tapeçaria grande de dois por dois metros, nunca tinha feito algo tão grande assim e ainda não fiz algo maior. Foi muito desafiador pra mim por vários motivos, pelo tamanho, pelo desenho, pela proposta da Fashion Week e foi muito emocionante quando eu vi na passarela”, diz.

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Com a repercussão da Fashion Week, os trabalhos de Renan começaram ainda mais atenção nas redes sociais, onde já costumava compartilhar vídeos do processo de tecelagem de suas obras. Em novembro de 2023, a influencer Malu Borges viralizou ao postar uma foto com um look moda praia exclusivo de tapeçaria de Renan, assinado pela grife baiana Dendezeiro.

“Quando a Malu Borges que é uma blogueira influente no mundo da moda usou essa peça foi muito legal porque furou a bolha e chegou em muita gente e é sempre interessante ver como públicos diferentes reagem ao que a gente faz”,

Para 2024, o artista diz que o plano é consolidar a marca e contar novas histórias. “Quero inovar nas apresentações das minhas tapeçarias, fazer coisas maiores e coisas diferentes do que eu tenho feito ultimamente. Contar novas histórias e colocar as histórias que eu já tenho no papel em forma. Quero continuar na moda, mas também é um desejo ver essa arte em galerias e museus”.

Com sua arte, Renan acredita ser possível quebrar preconceitos – e aposta nisso para continuar criando as tapeçarias. “Acho que a arte, principalmente a minha arte, que tem temáticas eróticas, ela tem um poder muito grande quando está em contato com o público. Um poder de informação e de quebra de alguns preconceitos”, finalizou.

Fotos:Reprodução/Redes sociais

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